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Educação midiática

omo consequência das mudanças sociais e tecnológicas relacionadas às mídias sociais, o conceito de educação midiática foi bastante diversificado nas últimas décadas. Em 2007, a Comissão Europeia

afirmou reconhecer a educação midiática como um elemento de aprofundamento da democracia e a defini-la como “a capacidade de acessar informações, de compreender, avaliar de modo crítico os diferentes aspectos dos meios de comunicação e dos seus conteúdos, e de criar comunicações em diversos contextos”.

A educação midiática no Brasil é uma novidade e um grande desafio, sobretudo quando se considera que o país ainda lida com problemas de alfabetização e qualidade de ensino. Em 2016, uma pesquisa feita pela Avaliação Nacional de Alfabetização informou que 54,73% das crianças de oito anos, que estudam nas escolas públicas do Brasil, apresentam maior dificuldade de leitura. Na região do Norte do país, segundo a mesma pesquisa, o número sobe para 70,21%. O levantamento também informa que apenas 14% da população brasileira possuem ensino superior.

Jornalista e editora de AosFatos, site de fact-checking, Barbara Libório comenta a seguir a importância da educação midiática no combate às Fake News.

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Educação Midiática -
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Bárbara Libório, jornalista de investigação de dados e editora do site AosFatos.org

Em maio deste ano, durante o painel “Fake News e Democracia – a difusão de notícias falsas e as implicações para o debate público”, Patrícia Blanco, presidente do Instituto Palavra Aberta, apresentou dados de pesquisas recentes que comprovam que 87% das pessoas se informam apenas pelas redes sociais, como WhatsApp, Facebook, Twitter e Instagram. Em seguida, durante o mesmo evento, o jornalista e doutorando em Ciências Humanas e Sociais (UFABC), Michel Carvalho, comentou alguns fatores que reforçam esse ambiente de desinformação, como a incapacidade de entender e analisar as mensagens que circulam no ambiente digital; desconhecimento da origem que se lê na internet; e falta de distinção entre opinião e informação.

Essa conjuntura se agravou ainda mais nas eleições gerais de 2018. Apesar de todas as notificações e recomendações de agências de checagens e de especialistas quanto ao tema, as notícias falsas foram um capítulo à parte nas campanhas, em especial no WhatsApp, cujo alcance ainda não havia sido “precificado” no tocante ao combate às Fake News.

O que fazer para conferir se uma notícia é falsa?

Título

Chamadas com forte apelo emocional costumam compor as notícias falsas, que podem ser confundidas com matérias sensacionalistas.

Fonte

Sites que produzem notícias falsas costumam ter URLs parecidas com as de grandes veículos de comunicação. Antes de ler a matéria, busque no Google e confirme se aquela notícia já foi dada pelos principais veículos.

Linguagem

Erros de ortografia, falta de concordância verbal e erros de pontuação são comuns nesse tipo de notícia. O uso de adjetivos também é uma característica presente.

Imagem

Se o principal gancho da notícia for uma imagem, consulte o Google Imagens para tentar descobrir a procedência da mesma. Muitas imagens são tiradas de seu contexto original e usadas para a construção de uma notícia falsa.

Para Leandro Beguoci, diretor editorial e produtor da Associação Nova Escola, boa parte dos problemas surgem a partir dos grupos de WhatsApp e muitas vezes no cinismo das pessoas para com a verdade, principalmente quando o relacionamento com a mídia brasileira parece bastante afetado. “Muitas pessoas que compartilham Fake News estão indignadas com a situação do país. Com isso, elas ficam na defensiva e só se revoltam com o que estão vendo na mensagem”.

O resultado disso, como se viu ao longo do processo eleitoral, é a propagação em larga escala de notícias fraudulentas, como definiu Eugênio Bucci, e as consequências são imprevisíveis.

Notícias Fraudulentas -
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Eugênio Bucci - jornalista e professor da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP)

Exemplo visível disso é o episódio envolvendo a dona de casa Fabiane Maria de Jesus, comentado na explicação do que é Fake News.

Em um cenário tão complexo como esse, as instituições brasileiras buscaram reagir. Ao longo do primeiro semestre, o Tribunal Superior Eleitoral, à época presidido por Luiz Fux, se posicionou no sentido de combater com veemência a disseminação das Fake News no processo eleitoral. A declaração foi concedida em junho deste ano, quando se imaginava que a extensão do problema atingia tão somente Facebook e Twitter. Com o alcance do WhatsApp como plataforma decisiva nessa conjuntura, a contenção do estrago parece não ter sido tão efetiva, como mostra a cobertura da imprensa.

Em duas ocasiões, Rosa Weber, atual presidente do TSE, se manifestou no sentido de reagir ao impacto das Fake News no processo eleitoral. E nas duas vezes em que falou, suas declarações não atenderam às expectativas dos reclamantes, sobretudo depois que o jornal Folha de S.Paulo publicou que a campanha de Jair Bolsonaro, então candidato do PSL à presidência da República, teria sido beneficiada pela disseminação de mensagens a partir do WhatsApp.

A seguir, Barbara Libório ressalta que as leis existentes já dão conta do impacto das Fake News.

Leis Existentes -
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Bárbara Libório, jornalista de investigação de dados e editora do site AosFatos.org

O problema das Fake News não será resolvido a curto prazo. Isso porque se faz necessária a mobilização geral da sociedade. Ensinar ao público identificar as Fake News mais óbvias, por exemplo, é um caminho, pois existe um padrão estabelecido tanto na notícia falsa quanto na verdadeira. Só assim será viável alcançar alguma redução de danos, evitando, portanto, as consequências das Fake News. Já a longo prazo, é fundamental a implementação de recursos para dar início à educação midiática nos currículos e disciplinas escolares, pois os estudantes são usuários da tecnologia. Desse modo, uma forma efetiva de ensinar é a adoção de uma matéria específica na grade curricular, na qual o tema possa ser desenvolvido levando em consideração a trajetória e a experiência dos alunos.

Essa proposta já tem sido aplicada na escola pública da Califórnia, Palo Alto High School Media Arts Center, onde a Professora Esther Wojcick dá aulas de jornalismo no Ensino Médio e tem um projeto colaborativo de jornal periódico. De acordo com essa iniciativa, os alunos passam por toda a construção do produto, do pensamento de criar conteúdo até a publicidade do jornal, o que ajuda a desenvolver o pensamento crítico dos alunos.

No Brasil, a experiência da Associação Nova Escola tem se pautado pela necessidade de aprimorar a participação dos professores em sala de aula, onde o diálogo é mais que relevante, é essencial. Nas palavras de Leandro Beguoci: “Como Fake News é algo novo, muitos ainda não sabem tratar do assunto, e isso inclui os professores. Percebemos um grande interesse para entender o que estava acontecendo, uma vez que eles sentem a necessidade de abordar esse assunto em sala de aula”. Na avaliação de Beguoci, é preciso ter um cuidado mais atento para essa questão. “Tem alguém enganando as pessoas e a gente precisa, sim, avisar. E eu acho que é importante, nesse caso, educar e mostrar a intenção que aquela mensagem teve ao chegar até ele”, explica Beguoci.

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